O império espanhol obteve seu auge a partir do encontro de metais preciosos, principalmente a prata, de início, no Peru e no México. Nesses locais eram formados áreas de mineração, áreas agrícolas e de pecuária, e um regime comercial de transporte interno e outro que visava a exportação, entretanto havia inúmeras outras atividades comerciais secundárias que não deixam de ser essenciais, como: a igreja, bares, armazéns, produção artesanal (têxteis de lã, de algodão, couros, sedas, etc.). Todos saíram ganhando, o Estado, através das cobranças de impostos, porcentagem sobre os metais extraídos das minas, distribuição de mercúrio, que era monopólio estatal; os espanhóis que achavam ouro e prata, aqueles que apostavam no comércio e abria a sua pequena loja, forças militares, todavia, para um sair lucrando, outro tem que sair perdendo, e esse alguém que não ganhou é conhecido como popularmente como índio. Esses foram explorados sem nenhum tipo de misericórdia.
Os povos ameríndios se encontravam nas piores condições possíveis de trabalho, era sugada ao máximo sua força, pois trabalhavam incansavelmente sem nenhuma espécie de
direitos ou leis que os protegessem, uma completa ausência de condições higiênicas, sem falar no estupro cultural que esses povos sofreram, indo a pequenos passos ao esquecimento de sua língua, religião, culinária, tecnologias. Devido à ocupação territorial pertencentes aos nativos, houve uma epidemia de inúmeras doenças trazidas da Europa, como o sarampo, gripe, varíola, febre tifóide, que praticamente dizimou todos esses povos. Alguns cálculos apontam que em mais ou menos 86 anos, a população do México Central caiu de 25 milhões para aproximadamente 1 milhão, ou seja quase 24 milhões de indígenas foram exterminados ao longo desse tempo. Caso semelhante aconteceu nos Andes Centrais, em que doenças acarretaram na morte de 4,5 milhões de índios num período de 36 anos.
Uma imensa conseqüência trazida com todos esses tristes números citados, juntamente
com o declínio da mineração, foi o aparecimento de colossais propriedades rurais, terras que eram caracterizadas pela monocultura como forma de cultivo, e que visavam à exportação dos produtos colhidos. No Brasil, diferentemente de todas as outras nações latino-americanas colonizadas, a idéia de latifúndio, monocultura e exportação surgiu anteriormente à descoberta de metais e pedras preciosas (o ciclo da mineração foi entre 1709-1789) com o cultivo da cana-de-açúcar, devido a fatores como o excelente clima tropical que dispensava gastos com a irrigação de terra, a ótima terra conhecida como “terra negra” que não precisava de muita atenção. Contudo, como a mão de obra local não se adaptou a esse tipo de cultura, e pela proteção dos jesuítas, os homens brancos foram forçados a buscar os homens negros.
Geralmente, há uma indagação a respeito do progresso dos Estados Unidos relativo
ao latino-americano, pois os dois foram colônias, então deduz que seus desenvolvimentos deveriam também ocorrer da mesma forma.
A primeira diferença é notar que o modo de ver o mundo de um inglês e de um
espanhol ou português são diferentes. Os ingleses estavam vivendo em uma terra onde o
desenvolvimento, não só tecnológico, mas também social (tolerância ao ser humano, direitos individuais), como o econômico (investimentos em poupanças e etc., liberdade econômica) estavam em seu auge, outro fator crucial na comparação da colonização é que os ingleses não utilizaram a força indígena como trabalho, excluindo e não incorporando a cultura nativa nos seus objetivos. A questão “lugar geográfico” também foi de grande influência, porque um lugar que possui um clima que se assemelha ao Europeu, e que contém um terreno com dimensões prodigiosas com pouquíssimos habitantes, facilita na habitação e adaptação dos exploradores. Por limitação na agricultura, foi necessário que buscassem as atividades mercantis e o desenvolvimento dos navios e navegações. Outro ponto determinante, que consolida a prosperidade desse lugar é que no momento de sua independência, eles tiveram apoio de outros países, como a França, e após a sua libertação, o EUA aumentou o seu nível de comercialização com a Inglaterra.
Diferentemente do que foi citado acima, ocorreu nas colônias espanholas, pois a
elite que residia aqui, buscava tornar esse sistema econômico em seu favor, não importando com o coletivo. Quando se fala em apoiar a Espanha em guerra, tendo a oportunidade de comercializar com os Estados Unidos e com os países europeus, a elite pensava somente no seu ganho, não se importando com a sua sociedade. Logo após a independência, foram geradas algumas disputas entre as novas capitais coloniais e as sub-regiões, ou seja, não havia uma idéia de união que tinha como alvo predominante um fortalecimento da economia e política dos países, eles estavam preocupados somente consigo.
A América Latina nada mais é do que um reflexo daquilo que foi sua história. Em
pleno século XXI, ela mostra-se ainda um tanto quanto frágil, e conturbada. Dois continentes pobres, em que muitos de seus habitantes são miseráveis, sua política corrupta, visão social retrógrada em que os movimentos sociais são demonizados por uma mídia alienadora, em que o oprimido é mostrado como opressor. Cenário nada mais que normal, pois ainda hoje, as nossas ex-metrópoles do tempo colonial, ainda atuam da mesma forma, só que de um jeito mais moderno, mais sutil, deixando-nos escravos do FMI, de uma política econômica neoliberal, que nos forçam a abrir o mercado e não possuir nenhuma forma de controle, então quando é gerada uma crise, tira-se da população, que é maioria pobre, para aplicar em bancos, empresas dos setores privados, sem nenhum tipo de retorno, isso nada mais é do que usurpação, roubo.
Uma das mais tristes heranças que tomamos posse foi a discriminação, principalmente
a racial. Quando iniciou o processo de transição dos escravos da África para a América, negros africanos eram vendidos e tratados simplesmente como objetos descartáveis, sem qualquer valor sentimental. Eram trazidos em porões fechados, úmidos, insalubres, misturados à excreção humana, e por esse fato, muitos deles (estudos apontam entre 20 a 40%) morriam durante o trajeto. Quando chegavam ao seu infame destino, eram torturados e criados como animais, sendo desprezados, humilhados, descriminados, e até hoje, depois de muito avanço tecnológico, e pouca evolução na forma de pensar, cultivamos ainda essa maneira de pensar.
Entre tantas situações ruins, essa grande América Latina possui qualidades que são
invejáveis, e que diferenciam o indivíduo latino americano do restante do mundo. Aqui, existe uma miscigenação nunca vista até então, mistura de negros, brancos, índios (brasileiros, bolivianos, peruanos, colombianos, venezuelanos, etc.), e juntamente com isso, a mescla de culturas, sincretismo religioso (outra herança colonial), dezenas de estilos musicais, culinária para agradar todos os paladares.
Também não se deve esquecer que o povo latino americano sempre lutou até últimas
as condições, diferentemente como se pensa, levantando espadas e derramando seu sangue por seus ideais de liberdade e igualdade, entre eles estão, Simón Bolívar, José de San Martín, Andrés Bello, Tomáz Guido, Francisco de Miranda, Bernardo O'Higgins, José Matías Zapiola, entre muitos outros. Isso serve para mostrar que os habitantes dessa região não eram apáticos e indiferentes com toda essa situação. Hoje em dia, essa ideologia de uma maior independência social, econômica da Europa e da América do Norte é visto como algo repulsivo, pois julgam tal medida como sendo de esquerda, e logo apelam para sofismas.
Que as veias abertas da nossa América Latina, como diria Galeano, sejam fechadas e
curadas, pois a cada segundo que perdemos do nosso sangue (riquezas econômicas, políticas, e principalmente culturais), ficamos mais fracos, podendo chegar inclusive à morte.
Por Rafael Caetano