Todo mundo gosta de futebol. Bom, nem
todo mundo. Mas garanto que eu, todos os donos de bar ,emissoras de TV, fabricantes
de cerveja , de fogos de artifício e pelo menos mais 50% da população gostam. Se
você vive no Brasil sabe que o futebol faz parte da nossa rotina, das tradições
e inclusive da nossa economia. E como todo negócio, elegemos nossos ídolos.
Crianças de dez anos sabem quem é o Pelé, que por acaso atingiu o auge de sua carreira a mais de trinta anos. E claro que tivemos muitos outros queridinhos, como o Robinho, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Kaká (as leitoras sabem do que eu estou falando) e agora, a sensação é o jovem e talentoso Neymar. Sorte do Santos e ao mesmo tempo medo e sonho de consumo de qualquer time adversário.
É natural que as pessoas queiram se espelhar nas figuras públicas que admiram. E se permitem cortes de cabelo desde o(graças a Deus)superado penteado de careca com uma filete de franja, até o mais recente moicano que virou moda. Até super compreensível. Cortes de cabelo falam algo sobre a personalidade da pessoa. Seja ele moderno, diferente, comum ou erro de palpite ou do cabeleireiro(atual definição da minha franja por exemplo).Pelo cabelo dá pra saber até quem passou no vestibular.
Mas aí outro dia me vi perguntando de onde surgiu a ideia do moicano, não tive que ir muito longe pra lembrar que tinha algo haver com uma tribo indígena dos Estados Unidos. É, Moicanos eram uma etnia de nativos que foi completamente dizimada pelos colonizadores europeus quando chegaram na América do Norte. Aí sem querer me lembrei de outra coisa, uma que tem muito mais haver com minha realidade e por mais que eu corra da ideia, é minha responsabilidade também. Não se engane, é tão minha quanto sua. Estou falando da questão indígena do meu, ou melhor nosso país.
Se você já ouviu falar de Belo Monte sabe onde eu quero chegar, se não, permita-me dizer: é um projeto de central hidrelétrica em processo de autorização para ser construída no Pará, no Rio Xingu. Pode parecer normal, afinal a energia de que você dispõe ao ligar o computador, assistir TV e acender as luzes, vem da energia disponibilizada por usinas hidrelétricas. Vulga ‘’energia limpa”. Mas esse projeto não apenas desmatará milhares de quilômetros quadrados de floresta amazônica, emitirá quantidades críticas de gases estufa como também coloca em risco cerca de vinte etnias indígenas que vivem no Xingu.
É claro que enquanto você lê essa crônica muitos movimentos contra essa aprovação e outros a favor de outros direitos de nossos índios estão acontecendo. Mas pelo menos a mim, parece vergonhosa essa atitude de deixar tudo sempre pros outros e não fazer nada. Ninguém faz um corte de cabelo indígena como protesto e nem sai por aí com a cara pintada, talvez a moda não julgue a causa como importante, talvez ainda pareça mais atraente parecer um jogador de futebol. Nós somos contra a globalização da Amazônia, claro, e indiferentes a um projeto devastador desses. Será que realmente temos algum direito sobre o que quer que seja? E o pior é saber que a copa do mundo ainda é um assunto mais discutido do que Belo Monte.
Eu amo futebol, de verdade, mas começo a
pensar que o verde da minha bandeira e o hino da minha pátria estão beirando a
hipocrisia. O mundo pode ter mudado um pouco, mas uma coisa não muda, direito
só se tem se se conquista.
Sissa Santos– aluna do 1º semestre de Relações Internacionais/RI-UCB
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