terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eleições e política externa, por José Romero Pereira Júnior (Professor de RI na UCB)
EQUIPE NUCSI19:32 0 comentários


O ano eleitoral tende a acirrar o debate em torno dos mais variados temas. A campanha presidencial de 2010, em particular, promete guardar um espaço considerável para um acalorado debate em torno da política exterior do Brasil. Área tradicionalmente reservada aos iniciados (diplomatas ou acadêmicos), a política externa tem conquistado espaço cada vez maior no debate político nacional. Tal fato se deve, essencialmente, a dois fatores complementares: o primeiro referente à dinâmica de evolução do debate político interno e o segundo, à condução da própria política externa brasileira nos últimos anos.
Com a consolidação da democracia (a partir dos anos 1980), a estabilização econômica (a partir dos anos 1990) e a incorporação efetiva da questão social (intensificada nos anos 2000), houve, na política interna, uma tendência à convergência crescente entre os principais partidos competidores (particularmente, PT e PSDB) em torno das linhas gerais a serem seguidas. O debate passou a concentrar-se, já há alguns anos, em aspectos morais e de gestão. Nesse contexto, a política externa emergiu como área de escape (retórico ao menos) para as pretensões esquerdistas de parte do governo e foco de críticas substantivas por parte de setores da oposição.
Tal dinâmica de antagonismo alimenta e é alimentada pelo crescente alcance e pelo modo como tem sido conduzida a política externa do país no governo Lula. Como bem gostaria o presidente, “nunca antes na história desse país” esteve o próprio país – e sua política exterior – tão em alta. Como bem destacou recente matéria do The Wall Street Journal (publicada em 29/3), “de repente, o que o Brasil diz e faz importa no exterior”. Para além das conquistas internas, isto se deve, em parte, ao prestígio do presidente Lula (eleito estadista global no início do ano) e, em certa medida, à bem-sucedida estratégia de ampliação das parcerias, que não apenas assegurou mercados, mas ampliou a capacidade de interlocução do país.
A maior visibilidade externa não significou, contudo, o apaziguamento das divergências internas em torno da política externa – nem dele resultou. Ocorreu, de fato, sob acalorado debate a respeito do papel do Brasil na América do Sul e no mundo. A participação brasileira na crise de Honduras, o tratamento dos direitos humanos e a pretensão de mediar a questão nuclear iraniana são todos temas candentes, que deverão alimentar o debate em torno da condução da política externa brasileira e do papel do Brasil no mundo. Além deles, as frequentes crises com a Argentina, as reclamações paraguaias e uruguaias com as persistentes assimetrias no Mercosul e outras dificuldades para implementar um sólido projeto de integração deverão agregar elementos à disputa eleitoral em torno da política exterior. Somados, esses fatores devem assegurar um pouco de emoção e um espaço para o embate de ideias nas eleições de outubro.
José Romero Pereira Júnior é professor de Relações Internacionais e Coordenador da Pós-Graduação em Relações Internacionais e Diplomáticas da América do Sul da Universidade Católica de Brasília (romero@ucb.br).

www.mundorama.net
In Category :
About The Author Ali Bajwa Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore. Magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat. Facebook and Twitter

0 comentários

Postar um comentário

Deixe aqui a seu comentário.